Mensagem do Pároco

Vivência Quaresmal 

Todos os anos a Igreja convida-nos a este itinerário quaresmal. Tem raízes no Antigo Testamento, sustenta a tradição da Igreja e orienta-nos como filhos no caminho para Deus, qual “tempo de graça” para todos os batizados (Cf. Papa Francisco). A Igreja exorta-nos a considerar a Quaresma como o tempo de penitência e conversão; é um convite à renovação da nossa própria vida cristã à luz da Palavra de Deus. Através de vários exercícios espirituais fazemos a trajetória do regresso para o Pai, o Senhor da vida, que se revela no acontecimento da Páscoa.  

Assim, a Quaresma, inicia-nos na Páscoa, treina-nos na passagem da morte à vida. É um tempo para viver como caminho que leva até a Páscoa. Este é um processo que se realiza na vida cristã em três momentos: Morrer, para tudo aquilo que se opõe ao projeto de Deus para começar uma nova vida; Celebrar, com Cristo uma nova vida, Viver, esta nova vida com energia e entusiasmo, para anunciar ao mundo que o Senhor está vivo. 

A Quaresma tem início na Quarta-Feira de Cinzas e é o caminho do regresso para o Pai. A proximidade de Deus com o homem exige a purificação do coração e da vida. Assim o primeiro convite que a liturgia nos faz é o da penitência – humildade, enquanto caminho para a conversão da vida. A liturgia oferece-nos simbolismos e exercícios que orientam este encontro com Deus. 

A penitência interior, tal como já acontecia com os profetas, (Cf. Jl 2, 12-13; Is 1, 16-17), o apelo de Jesus à conversão e à penitência (Mt 6, 1-8.16-18), próprio deste tempo, não visa primariamente as obras exteriores, «o saco e a cinza», os jejuns e as mortificações, mas a conversão do coração, a penitência interior. Sem ela, as obras de penitência são estéreis e enganadoras, pelo contrário, a conversão interior impele à expressão dessa atitude com sinais visíveis, gestos e obras de penitência. 

Mudar de vida – «Rasgai o vosso coração e não as vossas vestes»: 

• Pode significar o romper com a tibieza, com a rotina de morte que nos ata aos defeitos e nos retém desconsolados e tristes, sem gosto na oração e sem alegria de viver. 

• Pode significar, a luta contra um defeito concreto que já tentei combater várias vezes sem sucesso, a exemplo dos apóstolos que depois de uma noite em que não pescaram nada, somos convidados a responder ao Senhor: «sobre a Tua palavra lançarei as redes.» (Lc 5, 59). 

Nota introdutória – Para viver bem a Quaresma  

O apelo de Cristo à conversão continua a fazer-se ouvir na vida dos cristãos. Esta segunda conversão é uma tarefa ininterrupta para toda a Igreja, que «contém pecadores no seu seio» e que é, «ao mesmo tempo, santa e necessitada de purificação, prosseguindo constantemente no seu esforço de penitência e de renovação» (Lumen Gentium, 8). Este esforço de conversão não é somente obra humana, é o movimento do «coração contrito» (Cf. Sl 51. 19) atraído e movido pela graça (Jo 6, 44) para responder ao amor misericordioso de Deus, que nos amou primeiro (1Jo 4, 10). 

A conversão realiza-se na vida quotidiana por gestos de reconciliação, pelo cuidado dos pobres, o exercício e a defesa da justiça e do direito (Cf. Am 5, 24; Is 1, 17), pela confissão das próprias faltas aos irmãos, pela correção fraterna, a revisão de vida, o exame de consciência, a direção espiritual, a aceitação dos sofrimentos, a coragem de suportar a perseguição por amor da justiça. Tomar a sua cruz todos os dias e seguir Jesus é o caminho mais seguro da penitência (29). 

A Igreja propõe-nos uma ascese em três formas concretas: o jejum, a oração e a esmola que exprimem a conversão, em relação a si mesmo, a Deus e aos outros. A par da purificação radical operada pelo Baptismo ou pelo martírio, citam, como meios de obter o perdão dos pecados, os esforços realizados para se reconciliar com o próximo, as lágrimas de penitência, a preocupação com a salvação do próximo (27), a intercessão dos santos e a prática da caridade «que cobre uma multidão de pecados» (1 Pe 4, 8). 

Como viver bem o tempo da Quaresma! 

Eis algumas práticas simples que nos podem ajudar a viver bem este tempo. 

  • Oração 
  • Jejum 
  • Esmola  
  • Confissão 
  • Santa Missa 
  • Via-Sacra 
  • Exercício de mortificação 
  • Humildade 


Primeiro Domingo da Quaresma 

A imagem simbólica apresentada pela liturgia do primeiro Domingo da Quaresma é o deserto, pois “através do deserto, Deus guia-nos para a liberdade” (Papa Francisco). O deserto, geograficamente, é um lugar despovoado, árido, isolado, desabitado caraterizado pela escassez de vegetação e falta de água. Simbolicamente o deserto significava “a morada das forças inimigas de Deus e dos homens”. Assim, o deserto é o lugar onde decorre o jejum, considerado como desprendimento e solidão exterior e interior, para levar quem nele penetra à união com Deus. É assim que se pode entender também os quarenta dias de Jesus, vividos como experiência de tentação e encontro íntimo com o Pai, mas também como preparação para o seu ministério público (Cf. Mc 1, 12-14). Desta forma Jesus ensina-nos que o deserto é igualmente o tempo de oração intensa. É o lugar do sofrimento purificador e da reflexão em vista à nossa libertação. “O sofrimento é um lugar para aprender a esperança. Devemos certamente fazer tudo para diminuir o sofrimento, todavia, não é a fuga diante da dor que cura o homem, mas a capacidade de aceitar a tribulação e amadurecer nela, e encontrar sentido para ela na união com Cristo, que sofreu com infinito amor” (Papa Bento XVI). 

Jesus depois de ter sido baptizado por João Batista começa a sua vida pública. Recebeu o Espírito Santo para a missão (Mc 1, 10). No deserto Ele confronta-se com uma proposta do diabo. 

Jesus não escolheu ir para o deserto foi conduzido pelo Espírito e aí enfrentou o “espírito do mal”. Também nós não escolhemos os desertos do mundo de hoje: o deserto da pobreza, o deserto da fome e da sede; o deserto do abandono, da solidão, do amor destruído, o deserto do esquecimento de Deus, do vazio sem consciência da dignidade e do rumo do homem. Mas com Jesus a travessia do deserto é possível. 

Oração 
Senhor Jesus ilumina-me com a Tua palavra.  
Abre os meus ouvidos e o meu coração às tuas propostas.  
Dá-me audácia necessária para as tornar realidade na minha vida.  
Amen. 


Segundo Domingo da Quaresma 

Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, João e Tiago e subiu ao monte, para orar (Mc 9, 2). Depois de ter anunciado o Evangelho na Galileia, Jesus vai a Jerusalém. Como preparação para esta nova etapa da sua vida, Jesus começa por orar, sobe a um monte, o lugar de encontro com Deus, leva consigo os discípulos de mais confiança: Pedro; João e Tiago. 

Há momentos importantes na vida que têm de ser partilhados com os amigos. Foi o que Jesus fez. Preparas os momentos importantes da tua vida, do teu dia a dia, com a oração? 

Oração 
Muitas vezes me convidas para rezar no “monte”, Senhor, mas são muitas as minhas desculpas.  
Muitas vezes me pedes que confie em Ti, mas muitas são as vezes em que prefiro confiar nas minhas próprias forças. 
Peço perdão por Te excluir da minha vida. 

Terceiro Domingo da Quaresma 

Destruí o templo e Eu o reconstruirei em três dias (Jo 2, 19). Jesus já não mais se refere ao comércio e ao tráfico indigno que há no santuário, mas fala da inauguração de um novo templo e do início dum novo culto. “Jesus, porém, falava do templo do seu corpo” (Jo 2,21). Jesus quer liberar esses homens de uma imagem perversa de Deus. O homem religioso tende a sacralizar livros, tradições, instituições, prédios, ritos e doutrinas, enquanto na Bíblia os únicos sagrados são Deus e o próximo” (Wackenheim).  

Jesus Ressuscitado de entre os mortos, o Pai colocou-O como pedra fundamental do novo santuário. Depois sobre essa pedra colocou outras pedras vivas que são os discípulos de Cristo. Todos juntos formamos o corpo de Cristo, o novo templo onde Deus habita – “Se alguém me ama, observará a minha palavra: meu Pai o amará e nós viremos a ele e habitaremos nele” (Jo 14, 23). Deus não está mais encerrado num templo de pedras, o novo templo de Deus é o Cristo que ressuscitou. 

Oração 
Ajuda-me, Senhor, a ter consciência, hoje,  
e durante a minha caminhada quaresmal, 
 que sou o Santuário de Deus. 


Quarto Domingo da Quaresma 

A Cruz de Cristo é a consequência do profundo amor divino. Por isso, olhar para Jesus “levantado na cruz” significa “acreditar n´Ele” e no amor de Deus para connosco. Isto significa aceitar com fé a mensagem que Ele, do alto da Cruz transmite a todos os homens, com o seu supremo gesto de amor, e ao mesmo tempo declara que o único modo de realizar plenamente a própria vida é doá-la por amor, tal como Ele fez. 

Oração 
Senhor, Vós nos ensinais que na cruz está o Vosso mais profundo amor
para connosco, ao ponto de entregar o Vosso próprio Filho,
fazei que também nós sejamos dons para os outros. 


Quinto Domingo da Quaresma 

O quinto Domingo da Quaresma é considerado o domingo dos profetas.
São os personagens principais da última etapa da história de Israel, enviados por
Deus para falar – com palavras e gestos – em Seu nome. Cada profeta tem as suas
próprias características: personalidade e missão confiada. Assim, neste domingo o
profeta Jeremias proclama uma nova aliança em que a lei de Deus já não será
escrita sobre pedras, mas nos corações. É, de certa forma, fazer da nossa
caminhada quaresmal, uma nova aliança com Deus baseada numa renovação
profunda no nosso coração.
A segunda leitura, da carta aos hebreus, revela que Cristo é sinal da Nova Aliança.
Assim, por Ele, para Ele e n’Ele o novo povo de Deus firmou uma aliança eterna, que
conduz à Vida eterna.
No Evangelho, Jesus anuncia a sua hora, o mistério da sua morte, “se o grão de trigo
não morrer não pode dar fruto“, (Cfr. Jo 12, 24). Assim, “morrer é permitir que a
riqueza que somos dê frutos”. “Quem tem apego à sua vida vai perdê-la; quem
despreza a sua vida neste mundo vai conservá-la para a vida eterna”, (Cfr. Jó 12, 25).


Domingo de Ramos 

Como todos os Domingos do ano, O Domingo de Ramos celebra a Ressurreição do Senhor, a sua vitória sobre a morte. Ele é caracterizado pela entrada triunfal messiânica em Jerusalém (Cfr. Mt 21, 1) e pela narração da paixão do Senhor.
Se por um lado a procissão nos faz viver alegria sentida aquando da chegada de Jesus à Jerusalém – confirmada com as palmas e ramos – sinais populares da vitória de Cristo; por outro lado a narração da paixão que sublinha o aspeto de que a vitória de Cristo se obtém através do sofrimento e da morte, “precisamente porque esta morte destruiu a morte”.
“Os relatos da Paixão surgem da necessidade, sentida pela geração das testemunhas da Ressurreição, de explicarem o sentido da morte trágica de Jesus.” Os que o tinham visto vivo tinham que confirmar a sua morte e narrar as circunstâncias da mesma à luz das escrituras.
Razão seja dada ao Pe. Ginel e Ayerra, no comentário ao Evangelho de hoje, ao dizerem que “a morte de Jesus, como todas as mortes, é desnecessária; por mais explicações que se deem, nunca seremos capazes de entender a morte. Custa muito perceber que depois da cruz se encontra Deus. Custa-nos entender que Deus esteja para lá do tumor maligno que roubou a vida a uma jovem de 23 anos (…) e assim em tantas outras mortes e tanta dor”.
Perante este cenário da morte, não só não entendemos, como, por não compreendermos, abandonamos quem morre. Foi o que se passou com Jesus, porque os seus seguidores não entendiam, foram-se embora, o entusiasmo de seguir Jesus acabou.

Oração 
Vós Senhor confiais em mim, achais que no meu coração
há lugar para a revelação do Vosso amor,
então vem Senhor. Faz-me corresponder-vos.
Desestabiliza-me. Abala a minha fé,
para que a minha vida possa ainda ter mais sentido e vigor em Vós. 


Domingo de Páscoa

Ressuscitou, aleluia!

No dia de Páscoa, o anúncio da Ressurreição, e a experiência dos discípulos, (conhecimento e aprendizagem com o Mestre) constitui a grande novidade da liturgia da palavra que nos é proposta.
A Páscoa é a celebração central do ano litúrgico da Igreja. Nela, nós cristãos, somos convidados a refletir em duas perspetivas:
– A primeira trata-se da confirmação das palavras de Jesus antes da sua paixão e Ressurreição “se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto”, (Jo 12, 25). A morte e ressurreição de Cristo, gerou o “corpo místico “- a sua Igreja. 
– A segunda realidade é o convite à reflexão sobre o amor de Deus, que entregou o seu próprio Filho para a redenção de todos nós, “Ele é entregue à morte para pagar todos os nossos pecados e ressuscitado para nossa completa justificação”, (Rm 4, 25).
Assim, a partir da morte e ressurreição de Cristo na Páscoa, somos mergulhamos na fonte da vida de Cristo Ressuscitado. “Eu vim para que tenham vida (Jo 10,10); Eu sou a Ressurreição e a vida (Jo 11, 25)”. Fazer parte da vida de Cristo Ressuscitado é vivenciar o encontro com Ele em vários níveis, etapas e circunstâncias da nossa vida. É passar por momentos em que cheios de entusiasmo algumas vezes O procurarmos em lugares onde Ele não se encontra, porque Ele nos precede e nos surpreende. É experimentar a desilusão total pondo à prova a fé de cada um. Mas é sobretudo a descoberta da sua presença entre nós no momento que menos esperávamos, tal como o fez com as primeiras testemunhas da Ressurreição. As Santas Mulheres movidas pelo amor ao seu Mestre, madrugaram para irem ao sepulcro. Estas discípulas levadas pelo sentimento, vão ser testemunhas de um mistério, o túmulo vazio. Aprenderão que não são seguidoras de um morto, mas de um vivo. Imediatamente começam a compreender que no Mestre se cumpre tudo o que estava profetizado. O encontro com o Mestre mudou a vida desses discípulos e, consequentemente a vida dos discípulos de todos os tempos. Muda a vida de cada um de nós, porque nos transforma e liberta do pecado e da morte, firmando em nós a promessa de vida eterna.

A todos desejo uma Santa Páscoa.


Aleluia, aleluia, aleluia.